sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Turismo na LUZ: conheça o trabalho realizado na Universidade Federal de São Carlos




foto: Jornal Folha de SP

Caros parceiros,

Essa semana tive a alegria em receber o e-mail de Pedro Galvão do Amaral Pinto Barciela, nascido e criado no bairro de Santana  e, atualmente, é estudante de turismo da UFSCar - Universidade Federal de São Carlos - campus Sorocaba. Pedro é (SP)

Essa é a primeira vez que tivemos contato com estudante da área de turismo e mais, com um trabalho pronto sobre os aspectos turísticos do bairro da LUZ. Que tem como título  “O papel do turismo na gentrificação do bairro da Luz na cidade de São Paulo” com recorte de pesquisa nos temas: políticas públicas do turismo, planejamento turístico e gentrificação.

Compartilho aqui um fragmento do e-mail que Pedro me encaminhou e onde eu interpreto como suas motivações para a realização desse trabalho:

 Há algum tempo atrás assisti a um documentário [LUZ dos espanhóis Left Hand Rotation], que tratava basicamente do Projeto Nova Luz e da perversidade prevista nesse planejamento urbano. Fui apresentado ao conceito de gentrificação e senti que algo podia (e deveria) ser feito por todos aqueles moradores da cidade. 
Assisti algumas inúmeras vezes o documentário, buscando alguma lacuna ou alguma "brecha" para que eu pudesse utilizar do (pouco) conhecimento que trago desses quatro anos de estudos acadêmicos. Foi então que, me deparei com a declaração de uma profissional (possivelmente uma estagiária, talvez) que atuava como atendente em uma Central de Informações Turísticas. Fiquei espantado. Estudei durante 4 anos a temática, me aprofundei o máximo que pude na questão do turismo sustentável e no turismo urbano.
A declaração infeliz de tal profissional consistia em algo como "Evite o bairro por que lá não moram pessoas, são todos dependentes químicos". Senti então que, a partir desse ponto conseguiria atuar, mesmo que de forma singela, na sua alçada acadêmica, em prol da preservação e da conscientização de que a Luz é muito mais do que tentam nos mostrar.

Em suma estou realizando meu trabalho de conclusão de curso, pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a simples possibilidade de, compreender um pouco melhor o que se passa e em um futuro próximo propor alternativas para programas de re-urbanização de forma consciente, já me faz feliz. 

Fiquei muito feliz em saber de tudo isso, pois eu compartilho do mesmo sentimento e pensamento do Pedro. Mas eu só fiquei com (mais um) sentimento de frustração em ver um brasileiro, um cidadão, um profissional da área do turismo passando adiante a nefasta imagem de bairro “marginal/bandido” para um estrangeiro. Porém, para Pedro o sentimento virou ação, virou investigação, estudo, compreensão e comunicação.

Na troca de e-mail que tivemos perguntei a ele  por que ele escolheu estudar turismo, vejam a resposta:

Optei pelo turismo por uma série de motivos. Mas um deles foi, com certeza, a possibilidade de, como agente ativo desse processo, instruir pessoas, levar até pessoas uma realidade que muitas vezes elas não tem a possibilidade de enxergar, por diversos motivos. 

Em seguida o questionei se estivesse no lugar daquela agente (que aparece no documentário)  o que ele teria feito, veja o que ele respondeu: 

Não cabe a um profissional julgar quem mora ali, ainda mais generalizar uma região inteira dentro de um pressuposto tão raso e degradante como foi o que ela usou na sua classificação. Caberia a ela contextualizar tudo aqui. OU melhor, não caberia a ela, mas ela teria sim, a possibilidade, veja só, de propagar através daquela posição que lhe foi dada, uma série de informações que poderiam interferir e muito na visão e na experiência do turista, transformando assim não só o dia do turista, mas sua percepção como ser humano de um espaço muito mais complexo do que, creio eu, a profissional em questão possa imaginar.


Disse ao Pedro sobre a expulsão da população (classe baixa ou alta) e os impactos de grandes projetos como a Copa do Mundo (entre outras) no Brasil, veja o que ele respondeu:


Concordo plenamente com você no papel central que o turismo passará a ter em cidades (e principalmente metrópoles, como São Paulo) de grande porte. Vejo, na sua essência, como uma atividade que pode contribuir e muito para a diminuição da desigualdade, para a valorização cultural e como você bem citou, construir e sensibilizar uma "identidade" para toda a população paulista.

Sou um cidadão paulistano, atualmente moro em Sorocaba, interior paulista. Precisei sair da cidade para ver quão grande é o potencial da minha cidade não só no que diz questão ao aspecto econômico, mas no aspecto cultural, na riqueza histórica e social que a cidade traz consigo, mas, que mais uma vez, parece fazer questão de "destruir para construir", em prol de um possível "progresso" para poucos.

Me "refugio" na idéia de que existem sim, pessoas como você, associações como a AMOALUZ que buscam acima de tudo sensibilizar a população de que nada, nada na vida possui apenas um lado, ainda mais se tratando de mercado e estado.


Para terminar, queria saber  se o turismo pode ser um agente gentrificador, veja o que o Pedro respondeu:

Eu estudei quatro anos do curso de turismo, um curso, em sua essência, dependente de uma visão muito mais mercadológica do que humanista. Tive aulas com geógrafos, que viam no turismo um agente destruidor e que participava ativamente de qualquer processo de degradação de culturas autênticas, de representação histórico-culturais. E o pior de tudo, não podia em momento algum culpá-los ou julgá-los por uma visão monocentrica de que, em sua totalidade, o turismo age como agente perverso, e nunca como agente valorizador, agregador. Estudei até então cases de diversos países, como Darling Harbour, em Sydney, Liverpool, alguma cidades americanas, Puerto Madero, entre tantos outros projetos urbanísticos nos quais, realmente, o estado e o mercado utilizavam-se do turismo como agente gentrificador, como uma "ferramenta" para algo muito mais complexo. E, creio eu, sinceramente (pois caso contrário não conseguiria desenvolver tal pesquisa), que o turismo pode sim, agir como uma força importante nesse projeto, mas que, ao contrário do que ocorre atualmente, creio que ele pode agir como força anti-gentrificadora, agir em prol da população, e jamais contra.


Ele me autorizou a divulgar seu trabalho, por isso quem tiver interesse me avise que repasso por e-mail. Em breve vou disponibilizar nos documentos do blog.

Ao término do e-mail Pedro se despediu assim: 
Espero que essa pesquisa seja útil e que possa ajudar com a causa de vocês que deveria ser a causa de todos os paulistanos.


Isso sim é luta social em prol de inclusão, quando muitos se sensibilizam e dentro do que sabem constroem e promovem solução, alternativas para o melhor bem viver em São Paulo.

Essas entre outras ações em prol de soluções e construções do centro de SP precisam sempre serem valorizadas.  Grata Pedro! 


Grata caros parceiros
Beijos
Paula Ribas 

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