Sr. Elídio Lopes, 76 anos, técnico em consertar sanfonas, trabalha no bairro da Luz há 30 anos (foto: Paula Ribas) |
Sr. Elídio na sua oficina onde conserta sanfonas (foto: Paula Ribas) |
Caros Amigos,
Hoje tive o prazer de conhecer essa figura maravilhosa que trabalha no nosso bairro há 30 anos, ele é o Sr. Elídio Lopes. Tem 76 anos e não tem medo dos "nóias" do bairro.
O sr. Elídio vem de família de espanhóis, seu pai foi músico toda a vida e quando ele descidiu seguir o caminho da música e, ainda, como sanfoneiro o pai não teve dúvida, expulsou o então jovem Elídio com seus recém completados 18 anos. "Meu pai disse que sanfona não dava futuro pra ninguém e que todo músico era vagabundo. Imagine, trabalhei tanto e tô aqui até hoje trabalhando e com a sanfona", afirma orgulhoso do destino que teve.
(foto: Paula Ribas) |
Em 1953, frequentou por pouco tempo a escola para aprender a tocar e depois aprendeu com amigos e na intuição. Sua preferência musical sempre foi o clássico: "A professora Renata (Sbringhi amiga e frequentadora da loja) toca "O Guarani" de Carlos Gomes, imagine isso, aquela música linda na sanfona", diz inebriado.
Já conhecedor e tocador de sanfona, foi trabalhar na fábrica de sanfona Scavonne onde aprendeu muito sobre a parte material do instrumento.
Fez parte de duas bandas e já perdeu as contas de quantas pessoas no mundo musical já passou ou arrumou o instumento na sua oficina. "Olha aqui vem gente de várias cidades e inclusive de vários países. Sempre recebo os latinos, os argentinos vem atrás de bandoneon (uma espécie de sanfona usada no tango), até os bolivianos vem para conhecer o instrumento", explica.
Segundo o sanfoneiro não dá para falar de sanfona sem falar da importância das mulheres, 80% dos músicos são mulheres. Quando questiono se ele sabe explica , reponde: " Mulher é mais idealista, esforçada para tudo. Porque para ser sanfoneiro tem que querer de verdade".
Perguntei a ele se sabia sobre o projeto Nova Luz, ao que disse: "Olha , seja o que for que queiram fazer, desde que melhorem o bairro tá bom. Gosto daqui, a tradição na música é importante para o bairro e o bairro é muito importante na vida de muitos músicos também".
O que poderiam melhorar, pergunto: "Ajudar essas pessoas a sair das drogas. Nunca aconteceu nada aqui de roubo, essas coisas. Eles (os dependentes químicos) não mexem com a gente, eles ficam na dele".
Ao final da conversa disse: "Sr. Elídio posso tirar uma foto do sr. para colocar no nosso blog, gostaria que muitas pessoas conhecessem a sua história". E ele respondeu:" Só não quero que encha a loja de clientes. Uma vez sai numa revista e veio tanto cliente para comprar sanfona que eu não tinha mais o que vender", respondeu.
Sr. Elídio certamente muitas pessoas vão querem conhecê-lo isso faz parte da pessoa incrível que o senhor é e desse ofício único que poucos terão a chance de ver.
Imagine pessoal, no nosso bairro ainda tem várias profissões que , algumas , já estão praticamente extintas.
No próximo post vou entrevistar o alfaiate do bairro, o sr. Sacramento.
Até mais
grata
beijos
Paula Ribas
1 comentários:
Primoroso este post, Paula.
Parabéns!
Vou repercutir...
"Desmistificar" a distorcida idéia de que a Luz
é só um reduto de drogados é uma necessidade, já que a mídia gorda e preguiçosa vive de propagar clichês, discriminação e "generalizações" fáceis/babacas.
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